Arrepios e embrulhos no estômago
Inspirada por uma sugestão da minha queridíssima Laurinha, resolvi voltar a escrever por aqui. Nada de pompas, contos heróicos ou dramalhões - pelo menos, por hoje. O que relato agora é um fato terrível que presenciei dia desses..
" Vejamos: para lá ou para cá? Procuro alguma indicaçao que me informe onde fica o caixa eletrônico mais próximo e, ah, sim, ali. Estava com pressa, já que tinha algumas coisas a pagar, um encontro com uma amiga e uma passada para dar um beijinho no meu namorado. Com sorte, sacaria o dinheiro em poucos minutos, se não tivesse ninguém na fila. E não tinha - glória! Desci as escadinhas correndo ao encontro daquela máquina mágica, que cospe as folhinhas de papel tão preciosas para e nesse mundo. Enquanto procuro meu cartão na bolsa - que, naquele momento, possuía alguns diversos buracos em virtude do tecido frágil que arrebentara -, observo a presença de uma senhora próxima à agência do banco. Parada em frente às portas já fechadas, ela bravejava com o dedo erguido, apontando para o segurança. Queria entrar a qualquer custo no banco. Argumentou que estava grávida, que tinha seus direitos, que..Moça, que horas são agora? Eu: ã? Sim, enquanto ela falava, também ME observou. Ou melhor, observou que eu a havia observada e que eu tinha um relógio (sou canhota - droga!). E dessa forma, fui metida (sim, porque não fiz menção alguma de me meter na discussão alheia) na história. Calmamente, olhei para o meu relógio que tictaqueava, e, sem pensar, só despejei: quatro horas, agora. Pronto! Fui a responsável por, indiretamente, ter cutucado as raivas daquela senhora, aparentemente inocente. Ela esbravejou de novo, argumentou de novo, apontou o dedo de novo. Mas o segurança, na sua posição de ''estou fazendo meu serviço'', só se desculpou. A porta continuou fechada. O público que assistia àquela cena não se resumia, somente, a mim. Era uma fila de gente que aguardava a vez de entrar no caixa, lá dentro da agência. Eles, diferente da tal senhora, haviam chegado antes das 4h. E aos olhos e ouvidos de todos, a tal cidadã que exercia seus direitos, cuspiu: ''É, crioulo só serve pra isso mesmo..ser porteiro". Arrepios da minha nuca ao meu dedo do pé. Fiquei com nejo de mim mesma só pelo fato de ter dito às horas àquele ser, que, de repente, passou de gente a animal irracional, na minha concepção. Sim, o segurança, que não tinha a mínima culpa de não poder abrir as portas do banco, era negro. E continuou parado, em frente à porta, segurando-a, talvez com mais força, com mais raiva, com vontade de escancará-la e soltar desaforos, também. Talvez, não sei, só supus. Minha vontade foi de cuspir outras palavras em cima daquela mulher, que me fez sentir um embrulho nojento no estômago. E percebi, com uma dose de grande tristeza e raiva, que, sim, o preconceito ainda vive solto por aí..''